Tudo começa com a amamentação
Com a chegada do bebê à família, é comum surgirem dúvidas sobre sua alimentação. Os pais e as pessoas próximas querem oferecer o que há de melhor para a criança crescer feliz e saudável. O que é recomendado para essa idade? Como e com que frequência ela deve ser alimentada? Até quando pode mamar no peito? Quais alimentos ela pode comer?
Benefícios do aleitamento materno
Nos primeiros meses de vida, a melhor resposta para todas essas questões é: leite materno. Por ser um alimento completo e dinâmico e conter substâncias imunomoduladoras (que desenvolvem o sistema imunológico), o leite materno atende perfeitamente às necessidades do bebê. Ele contribui para a maturação dos sistemas digestivo e neurológico e possui anticorpos que protegem a criança de problemas como diarreia e infecções respiratórias e de ouvido, entre outros. Também previne doenças como asma, diabetes e obesidade.
Os movimentos que o bebê faz para sugar o leite do peito contribuem para o desenvolvimento da musculatura da boca e do rosto. E isso tem reflexos futuros, com benefícios para a respiração e a mastigação e o adequado alinhamento dos dentes, entre outros.
A mulher também se beneficia: o ato de amamentar auxilia na prevenção de doenças como câncer de mama, ovário e útero e reduz os riscos de desenvolver diabetes tipo 2.
Sem contar os ganhos psicológicos para ambos. Numa amamentação prazerosa, o aconchego do olho no olho e o contato íntimo entre mãe e filho fortalecem os laços afetivos. Essa troca nutre a criança com sentimentos de segurança e proteção ao mesmo tempo que alimenta a autoconfiança e o sentimento de realização da mãe. Em resumo, essa forma tão especial de comunicação proporciona à criança a oportunidade de aprender desde muito cedo a se comunicar com afeto e confiança.
Leite fraco não existe!
Muitas mães se preocupam com o aspecto de seu leite. Acham que, por ser transparente em algumas ocasiões, ele é fraco e não sustenta a criança. Por isso é importante que as mulheres saibam que a cor do leite varia ao longo de uma mamada e de acordo com a dieta da mãe. Ou seja: não existe leite fraco! Ele possui a quantidade adequada de calorias, gorduras, proteínas, vitaminas e água, tudo na dose certa para que a criança cresça e se desenvolva bem.
Desde o começo ele é assim poderoso. Nos primeiros dias, a produção pode ser pequena. Mas pense que o estômago do recém-nascido também é. A natureza é sábia, e isso se manifesta também na produção do leite. Por mais que seu peito esteja cheio, durante uma mamada, o bebê suga muito mais do que já estava ali armazenado. Ocorre que a maior parte do leite que o bebê consome é produzido pela mãe enquanto ele está mamando. Em geral, o leite que sai no começo da mamada é diferente, mais ralinho, porém rico em água, para matar a sede da criança e hidratá-la. É ali também que estão os anticorpos que a protegerão das infecções.
Na parte final da mamada vem o leite mais calórico, em geral esbranquiçado ou amarelado, por conter mais gorduras. É esse leite que deixa a criança saciada e que, consequentemente, fará aumentar o espaçamento entre as mamadas. Por isso é importante que a mãe dê tempo suficiente para que a criança esvazie adequadamente uma mama antes de oferecer-lhe a outra. Assim, ela garante o ganho adequado de peso do bebê e a manutenção de uma produção de leite suficiente para atender as necessidades do lactente.
Para a criança em aleitamento materno exclusivo não é necessário oferecer outros líquidos, como chás, água, sucos ou água de coco. Mesmo em regiões quentes, não é indicado a introdução precoce de líquidos, pois nesses casos o bebê se adapta e aumenta o número de mamadas para saciar a sede.
Pegou o peito direitinho?
O primeiro passo para o sucesso da amamentação é a “pega” correta. Ou seja, o modo como o bebê encaixa a boquinha no seio da mãe para sugar o leite. Algumas dicas ajudam a vencer essa primeira etapa com sucesso, confira:
- A mãe deve estar em posição confortável, não inclinada para a frente ou para trás.
- A cabeça e o tronco do bebê devem estar alinhados (o pescoço não deve estar torcido).
- O rosto do bebê deve estar virado para a mama; o nariz, na altura do mamilo; e a boca, o mais aberta possível.
- Ele deve abocanhar a aréola, aquela parte mais escura em volta do mamilo. Com isso, o mamilo fica totalmente dentro da boca da criança, o que o protege do risco de lesões.
- O lábio inferior do bebê deve ficar curvado para fora, formando um lacre.
- O queixo do bebê deve tocar a mama.
- As mandíbulas devem estar em movimento.
- Sinais de alerta: covinha na bochecha e barulho ao mamar indicam ingestão de ar e uma pega inadequada. Além disso, se não estiver bom para ele, o bebê certamente irá chorar.
Por quanto tempo amamentar?
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) é que o aleitamento materno exclusivo seja regra até os seis meses de idade. A partir desse período, é indicada a introdução da alimentação complementar.
Mas, junto com esses novos alimentos, deve-se estimular a manutenção do aleitamento materno até os dois anos de vida ou mais, de acordo com a vontade da mãe ou da criança, desde que essa continuidade seja nutritiva.
E quando a mãe tiver que voltar ao trabalho?
Para as mães que precisam se ausentar ou voltar precocemente ao trabalho, há a opção de ordenha do leite em casa. Em alguns casos, esse processo pode ser utilizado mesmo antes dessa fase. Logo nos primeiros dias após o parto, quando ocorre a descida do leite pode acontecer de a mama ficar muito cheia ou inchada, causando desconforto para a mãe e dificultando a pega do peito pelo bebê (ele não consegue abocanhar a aréola). Nesses casos, ou sempre que a mulher sentir desconforto, indica-se a retirada de um pouco do leite das mamas. A extração pode ser feita com auxílio de bombas de ordenha ou manualmente.
Para essa fase, algumas dicas podem ajudar:
- Uma ou duas semanas antes de voltar ao trabalho, comece a tirar o seu leite e a guardá-lo para fazer um estoque.
- Amamente a criança antes de sair de casa para o trabalho e imediatamente após regressar.
- Amamente durante a noite.
- Nos dias de folga, amamente em livre demanda (ou seja, sempre que a criança quiser).
- Na sua ausência, o leite estocado deve ser dado em xícara ou copinho. Evite mamadeiras, porque nelas o bebê suga com maior facilidade e por isso pode acabar perdendo o interesse pelo peito, onde tem que “trabalhar” mais para obter o mesmo resultado.
Para acondicionar o leite retirado do peito, escolha frascos de vidro com boca larga e tampa plástica. Esses utensílios devem ser esterilizados. Coloque-os para ferver por 15 minutos (a contar do início da fervura), retire e deixe o vidro secar de boca para baixo sobre um pano limpo ou papel-toalha.
Antes de fazer a ordenha, retire anéis, pulseiras e relógio, lave as mãos e antebraços, prenda os cabelos com touca ou lenço, coloque uma máscara ou uma fralda cobrindo a boca e o nariz. Para preparar a mama, faça massagem, com a ponta dos dedos ou a palma da mão, em movimentos circulares, começando pela aréola.
Despreze os primeiros jatos de leite antes de colher o que irá armazenar. O leite ordenhado pode ser conservado em geladeira por até 12 horas e no freezer por até 15 dias. O cuidador do bebê deve aquecer o leite refrigerado ou congelado em banho-maria, para que não se percam seus benefícios nutricionais, e oferecê-lo morno à criança.
Quando não é mesmo possível amamentar
Há casos em que a mãe, por mais que deseje, não consegue amamentar o seu bebê. É frustrante, mas não é preciso se sentir a última das mulheres. Com ajuda de profissionais da saúde, é possível encontrar outros meios de alimentar o bebê para que ele cresça e se desenvolva plenamente. Existem também diversas outras interações que a mãe pode ter com o seu bebê para nutrir o vínculo afetivo.
As fórmulas infantis são a melhor alternativa para quando a mãe não consegue amamentar o bebê ou faz isso apenas parcialmente. Existem diversas opções no mercado específicas para cada faixa etária e para as necessidades da criança. Elas são elaboradas a partir do leite de vaca, com nutrientes balanceados e adaptados ao grau de maturidade do organismo do bebê, e feitas de modo a se assemelhar ao leite materno. Portanto, suprem as necessidades nutricionais nos primeiros meses de vida.
Outra opção – não recomendada pelos órgãos de saúde, embora muitas famílias recorram a ela – é a utilização de leite de vaca modificado em casa. Esse leite contém muita proteína, sódio, potássio e cloro em sua composição, o que pode sobrecarregar os rins do recém-nascido. Por isso, até os quatro meses de vida, esse leite precisa ser diluído, para ficar mais adequado ao consumo do bebê.
Exemplo de diluição de leite de vaca integral
Outro ponto que merece atenção é o fato de o leite de vaca não dispor de quantidades suficientes de alguns nutrientes importantes nos primeiros meses de vida da criança, como as vitaminas A, D e C. Além do fato de o bebê não conseguir aproveitar todo o ferro nele contido, o que pode levar a um quadro de anemia. Em muitos casos, as crianças alimentadas com o leite de vaca precisam receber suplementação de vitaminas e minerais, o que deve ser feito sempre sob a orientação de profissionais de saúde. Para evitar deficiências nutricionais, a introdução à alimentação complementar deve ser iniciada mais cedo, por volta dos quatro meses. A partir dessa idade também já não é mais necessário diluir o leite de vaca.
Fontes:
Manual de alimentação: da infância à adolescência. Sociedade Brasileira de Pediatria. 4ª edição ampliada e revisada, 2018.
Cadernos de atenção básica: aleitamento materno e alimentação complementar. Ministério da Saúde. 2ª edição. Brasília, 2015.
Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Ministério da Saúde.
Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano http://www.redeblh.fiocruz.br/media/cartilhasmam.pdf