O pai do macarrão: A questão que divide pesquisadores
Outra pista: na Antiguidade, em seus escritos, o poeta romano Horácio (65-27 a.C) fazia menção ao laganum, um alimento que podemos chamar de ancestral da lasanha. Já outros pesquisadores, também com base em achados arqueológicos, apontam que a invenção cabe aos chineses e surgiu há 4 mil anos.
Mas se há controvérsias sobre a origem exata, de uma coisa ninguém duvida: foi na Itália que o macarrão encontrou terreno fértil para prosperar e, a partir dessa base, ganhar o mundo.
Mitos e verdades
Também é certo que não foi o navegador veneziano Marco Polo que trouxe o macarrão da China, no século 13. Autora do livro Encyclopedia of Pasta (Enciclopédia da Massa, em tradução livre, e sem publicação em português, University of California Press, 2009), a pesquisadora Oretta Zanini de Vita encontrou registros de que a massa seca feita de trigo duro era consumida na península bem antes disso, ainda no ano 800.
Segundo ela, no século 12, Gênova e Pisa comercializavam o produto para regiões próximas e outros países da Europa. Anterior à volta de Marco Polo, o inventário de bens de um soldado de Gênova, chamado Ponzio Bastione, registra uma cesta de massas, usando a palavra macaronis.
À época de Marco Polo, observa Oretta, os moradores da Itália já consumiam pasta havia pelo menos um século. E a própria naturalidade com que o navegador usa a palavra pasta para descrever o alimento similar que encontrou na China mostra sua familiaridade com o conceito da comida.
Contribuição árabe
Num artigo publicado na revista Superinteressante, o jornalista e gastrônomo Silvio Lancellotti acrescenta outros detalhes saborosos à saga do macarrão. Ele explica que a palavra maccarrani, de onde veio o nome macarrão, é o plural de maccarruna. Esta última, por sua vez, deriva do verbo maccari, que significa achatar ou esmagar.
Segundo Lancellotti, a técnica de produzir essa massa teria chegado à península pelas mãos dos árabes, que costumavam se dedicar a longas viagens. Assim, desenvolveram uma forma de fazer fios da mistura de farinha e água, para que se desidratassem e ficassem rijos após pouco tempo expostos ao sol.
Nesse formato, essa fonte alimentar poderia ser conservada por mais tempo e servir de provisão valiosa durante seus deslocamentos. “Aos fios se dava o apelido de al-itryia, ou trujje, ou trie no idioma siciliano – de onde provêm, ostensivamente, as aletrias, que até mesmo os portugueses utilizam na sua gastronomia”, escreve Lancellotti.
E ele completa: “Das trujje brotaram todas as massas longas, finas ou grossas, maciças ou furadas, arredondadas ou achatadas, que no correr das épocas virariam os spaghetti, os tagliarini, as fettuccine etcetera que se consomem no mercado internacional”.
Casamento perfeito
Outro grande marco que alargou ainda mais o alcance do macarrão como repasto querido e amado mundo afora foi o seu encontro com o molho de tomate. Isso só foi possível com a descoberta das Américas, pelas Grandes Navegações.
Foram os espanhóis que levaram o tomate, nativo do Peru, para a Europa. Mas a união dele com a massa é creditada a um italiano, claro! Como conta Lancellotti: “O sucesso do belo fruto só aconteceu nos entornos de 1595, quando um cozinheiro napolitano colocou na panela pela primeira vez apenas as partes rubras dos tomates e inventou o molho mais famoso do Universo. Inaugurou-se, então, uma parceria indestrutível, tão majestosa que, por causa dela, ainda há quem acredite ser Nápoles a inventora do macarrão”.
Para nossa sorte, o amor dos italianos pelo macarrão só fez crescer. Uma devoção que se materializou em centenas de formatos, recheios e molhos. Variedade é o que não falta quando se trata de macarrão. Mas isso é assunto para outro blog. Confira!
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