Banha de porco, o retorno
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No tempo de nossas bisavós e avós, era comum usar essa gordura de origem animal para cozinhar no dia a dia ou para conservar alimentos. Depois, ela experimentou um certo ostracismo, especialmente com a propagação da ideia de que havia outras gorduras mais saudáveis, como o azeite.
De uns tempos para cá, entretanto, a banha de porco está com tudo e não está prosa. É cada vez mais usada para preparar massas, doces, salgadinhos. E até chefs badalados, como Henrique Fogaça, do restaurante Sal Gastronomia (@salgastronomia), incluem o ingrediente em alguns pratos.
Mas fica no ar a pergunta que não quer calar: banha é uma gordura saudável? E mais: quais são seus prós e contras? E como ela fica na comparação com outros tipos de gordura?
Segundo a nutricionista Isabela Cardoso Pimentel Mota, coordenadora de nutrição hospitalar do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a banha de porco tem menos gordura saturada do que a manteiga e óleo de coco, o que pode ser um ponto a seu favor. Isso porque as gorduras saturadas contribuem para aumentar o colesterol total e o LDL (considerado o colesterol ruim). Elas também pioram o diabetes e aumentam a gordura visceral.
“Quando as dietas têm menor teor de gordura saturada, há benefícios não só na redução dos níveis de colesterol, mas também nos fatores de risco que estão associados a doenças do coração e ao câncer”, explica Isabela.
Já na comparação com óleos vegetais como os de soja, canola, milho ou girassol, a banha de porco perde pontos, segundo a nutricionista Lenita Borba, Coordenadora da Comissão de Políticas Públicas do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS. “A banha tem um teor maior de gordura saturada do que esses óleos”, explica. “Os óleos de soja e canola, principalmente, além de ter ácidos graxos poli insaturados ômega 6, contem ácidos graxos ômega 3, que são essenciais e o nosso corpo não é capaz de produzir”, observa ela.
Por isso, Lenita não considera uma boa estratégia nutricional substituir óleos vegetais pela banha de porco na preparação diária de arroz, feijão, refogados e carnes, pois isso elevaria a quantidade de gorduras saturadas na dieta. “A recomendação atual da Sociedade Brasileira de Cardiologia é que pessoas que não têm doenças cardiovasculares e desejam se prevenir consumam no máximo 22 gramas de gordura saturada, considerando dietas de 2000 kcal diárias”, explica a nutricionista. “Esse valor pode ser facilmente ultrapassado com o uso de banha de porco, pois já consumimos gordura saturada de outros alimentos de origem animal, como leite e derivados e carnes em geral”, conclui.
Para o médico nutrólogo Nelson Lucif Júnior, responsável pelo departamento de geriatria da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), há exageros tanto do lado dos defensores da banha de porco como do lado de seus detratores. “Como toda gordura, ela é uma boa fonte de energia. Mas existem evidencias de que trocá-la pela gordura vegetal tem pequena mais consistente vantagem em relação à prevenção de doenças cardiovasculares”, explica ele.
Entretanto, segundo Nelson, não é o caso para fugir correndo da banha de porco. Para esse ingrediente, assim como para outros itens da alimentação, vale a máxima “use com moderação”. “Se você incluir a banha de porco na refeição uma vez por semana, por exemplo, não vai morrer por isso”, diz o médico.